terça-feira, 10 de julho de 2012

John Frusciante fala sobre música eletrônica e os conceitos do Letur-Lefr e do PBX


John Fusciante postou um texto em seu site onde fala de seu sonho em fazer música eletrônica e sobre os conceitos do Letur-Lefr e do PBXVeja a tradução:
Minha História Recente
09/jul/2012, johnfrusciante.com

Comecei a pensar sério sobre seguir meu sonho de fazer música eletrônica e ser meu próprio engenheiro 5 anos atrás. Nos 10 anos anteriores a isso, estive tocando guitarra junto com uma grande gama de diferentes tipos de sintetizadores programados e música sampleada, emulando o melhor que eu podia, o que eu ouvia. Considerei esses programas como máquinas de linguagens para pensar e descobrir um novo vocabulário musical. As várias formas de músicas eletronicamente geradas, particularmente nos últimos 22 anos, tem introduzido vários novos princípios de ritmo, melodia e harmonia. Eu gostaria de aprender o que alguém programou, mas seus processos de pensamento me iludiram. Programadores, particularmente os fluentes em máquinas dos anos 80 e/ou programas de faixas dos anos 90, claramente possuem uma fundação teórica em seu serviço, mas não é a teoria que eu conheci do pop/rock, jazz ou clássico. A relação das mãos com o instrumento é grande responsável do porquê os músicos fazem o que fazem, e eu vim sentir isso no pop/rock com minha mente quase sendo comandada pela minha mão, o que eu tinha um grande desejo de corrigir. Eu estava obcecado com música onde inteligência de máquinas e inteligência humana parecessem dançando uma com a outra, cada uma se expandindo com o que recebeu do outra.

Em 2007, eu comecei a aprender a como programar todos os instrumentos que associamos com Acid House e outros estilos de música. Por cerca de 7 meses eu não gravei nada. Então comecei a gravar, tocando 10 ou mais máquinas sincronizadas com um pequeno mixador dentro de um gravador de CD. Aquilo era totalmente Acid House experimental, minhas habilidades de fazer rock não encaixavam nisso em nenhum lugar. Eu perdi interesse na tradicional composição de músicas e fiquei excitado com novos métodos de criação de música. Me rodei de máquinas, programava uma depois outra e aproveitava o que era um processo fascinante do começo ao fim. Eu estava tão excitado com o método de usar números quanto o tanto de vezes que usei meus músculos na minha vida toda. Habilidades que previamente eram aplicadas pelo meu subconsciente estavam gradualmente se tornando conscientes, pela virtude de possuir um significado teórico-numerário de pensar sobre ritmo, melodia e som.

Então comecei um relacionamento musical com dois amigos, com quem eu poderia fazer basicamente a mesma coisa que fazia na minha sala, agora apenas com outras pessoas. Isso continua sendo uma banda, o que é perfeitamente congruente com minha natureza.

Pouco antes de começarmos a tocar juntos comecei a usar um computador. Inicialmente era apenas para gravar o que eu estava fazendo com hardwares, mas na verdade se tornou um dos meus principais instrumentos. Gradualmente comecei a construir um estúdio com um set idealmente pensado para o modo que trabalho e penso (que continua funcionando). A música que fiz nessa fase foi mais um tipo aventureiro de Acid House instrumental que coloquei num CD, e durante o tempo em que gravei minha segunda música no computador, fiquei ciente de que "Progressive Synth Pop" era a descrição mais segura do que eu estava fazendo. Acid era, porém, o estilo musical central envolvido.

Depois de um ano ou mais no computador, ocasionalmente comecei a usar minha voz novamente. Antes disso, incorporar guitarra e vocal parecia um problema pois eu queria fazer música baseado nas regras, como as entendi - inerente à vários estilos de música eletrônica que eu adorava - e não queria misturar isso com o que eu previamente fazia com composição e guitarra, sendo que regras do pop/rock seriam naturalmente envolvidas. Se eu misturasse as duas coisas naquela época, minhas coisas eletrônicas iriam servir de suporte para minhas músicas, voz e guitarra. Essa idéia era repugnante para mim. Como eu era muito mais desenvolvido como músico de rock, características e regras de rock estariam dominadas, e assim diminuiria o ritmo de descobrir coisas novas. Para ser claro, quando digo regras, me refiro aos princípios absolutos e os fenômenos abstratos que definem um estilo particular, marcando seus limites, onde existem áreas comprovadamente dignas de investigação criativa humana.

Continuei escrevendo músicas, mas somente quando eu precisava, porque alguma coisa precisava ser expressada naquele caminho. Não vejo mais a composição como um artesanato para ser constantemente polido, como vi por vários anos. Nos últimos anos, isso é apenas algo que acontece de vez em quando, uma coisa natural, como respirar. Em primeiro lugar, gravar músicas pré-escritas pareciam uma restrição, mas achei ter adquirido novos métodos de trabalho suficientes por conta própria e habilidades e velocidade de programação suficientes que quando gravei uma música pré-escrita, achei tão divertido como quando gravo instrumentais. Esse é o ponto em que as faixas de Letur-Lefr foram gravadas. Eu ainda estava meio direcionado para características de rock, mas R&B e Hip Hop estavam encaixando bem com os vários tipos de música que eu estava combinando. R&B pareceu pra mim um atalho para integrar minha composição com minha programação, sendo que eu poderia fazer de um modo em que a música servia de suporte para as coisas que eu estava fazendo instrumentalmente - e não do outro jeito - o que era muito importante para mim.

Passada essa fase, comecei a desenvolver um conceito de uma nova aproximação de tocar guitarra, o que requeria uma prática regular. Nos dois anos anteriores, prática consistia em tocar junto com aquilo ou as gravações de Rave ou Synth Pop, ou o quer que seja. Eu não via um motivo de trabalhar minha sagacidade muscular pois não era preciso no que eu estava fazendo. Eu originalmente estava praticando numa maneira disciplinada porque queria tocar no segundo álbum da minha esposa. Mas achei uma nova aproximação com o instrumento, o que era novíssima para mim, e que vi que tinha muito a crescer. Com meu principal instrumento eletrônico melódico sendo o MC-202 passei um longo período onde meu conhecimento de guitarra me ajudava com minha programação nele. Mas cheguei a um ponto em que o 202 me ajudava como guitarrista, e agora meu conhecimento de guitarra é ajudado pelo meu conhecimento do 202. Eu estava usando os músculos que eu estava desenvolvendo de uma maneira totalmente separada do que eu estava acostumado como músico de rock, parcialmente porque troquei de tipo de guitarra (uma Yamaha SG), mas principalmente porque minhas idéias musicais se juntaram com meu entendimento sobre um instrumento ao pensar que a escolha das notas não é limitada pela posição das mãos. Então nesse período guitarra ficou completamente integrada à minha música. A combinação de ter uma nova aproximação com o instrumento, combinada com todas essas maneiras que eu estava bem familiarizado de processo de sons, resultaram na mesma excitação sobre guitarra que tive com sintetizadores, seqüenciadores e drum machines. Esse, e outros fatores, resultaram na minha capacidade de aplicar princípios musicais específicos do rock/pop na minha música, assim como vinha aplicando aspectos específicos de cada outro tipo de música que eu amo. Não estou mais preocupado em evitar clichês pois não penso mais dessa maneira. Desenvolvi novos hábitos que me trazem todos os tipos de novos lugares, e os hábitos antigos são estranhos para mim agora. Junto com o computador que se tornou um novo instrumento para mim, o Drum n’ Bass (juntamente com vários outros estilos que tenho lidado) tem se integrado inteiramente à minha música. Nesse momento, eu também comecei a compreender características de estilos de engenharia do passado, me dando liberdade de combinar aspectos de antigos e modernos estilos de produção igualmente como combino diferente estilos de música.

Em alguns meses durante esse período, comecei a gravar PBX Funicular Intaglio Zone. Por anos eu juntava tudo em uma música por vez, mas minha experiência com produção agora me deixa trabalhar confortavelmente com um conceito de gravação enquanto continuo completamente absorvido no processo. Nesse tempo encontrei o balanço que eu estava procurando, onde a presença de um vocal e a estrutura de uma música escrita na verdade me davam liberdades adicionais como músico.

Os aspectos do PBX são a realização da combinação de estilos de música que vi na minha mente há vários anos atrás, como potenciais, mas que eu não tinha a menor idéia de como executá-los. Fico muito feliz de ter a oportunidade de me focar exclusivamente em música por si só, e também muito agradecido de passar todos esses anos ativo nos business da música enquanto mantinha minha cabeça na música o tempo todo. Eu estava livre para passar a maior parte do tempo tocando e gravando, escrevendo e sonhando. Tenho muita gratidão a todos que fizeram isso possível.

Em sumário, Acid me serviu como um bom ponto de partida, bem gradualmente me guiando a ser capaz de combinar qualquer estilo de música que eu queria, como uma banda de um homem só.

- John


Tradução: Felipe Marcarini
Agradecimentos: Universo Frusciante

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