Durante o mês de janeiro deste ano, fãs do Red Hot Chili Peppers se organizaram para prestar uma homenagem à banda. De Los Angeles, Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith e Josh Klinghoffer assistiram ao vídeo gravado por brasileiros que adotam o conjunto norte-americano como um estilo de vida. Junto dos quatro integrantes do RHCP estava também outro músico, brasileiríssimo: Mauro Refosco.
Catarinense de Joaçaba, radicado nos Estados Unidos desde os anos 90, Mauro tem uma trajetória bem mais ampla do que "apenas" os instrumentos de percussão que comanda no RHCP. Formado em percussão pela Unesp e pela Manhattan School of Music, o músico já tocou com o Atoms for Peace (de Thom Yorke, do Radiohead), faz parte da Forró In The Dark (grupo de brasileiros que divulga o gênero no exterior) e dividiu o palco com grandes lendas da música – David Byrne e Caetano Veloso entre elas.
Sobre o Chili Peppers, ele gosta de deixar claro: "Eu não sou membro da banda, é uma coisa bem definida entre eles. São os quatro, e eu sou contratado para fazer shows, turnê, gravações". De Nova York, onde vive (ele diz sentir falta, muita falta, do Brasil), Mauro Refosco conversou por telefone com o Portal da MTV.
Como foi sua chegada no Red Hot Chili Peppers?
O Chili Peppers é uma banda que, se você reparar, tem vários discos com percussão. Eles já tinham um lance de incorporar a percussão na gravação dos discos, mas geralmente era naquela fase em que o disco já está pronto e eles chamam alguém para acrescentar. Eu conheci o Flea no Atoms for Peace, e rolou uma coisa legal, ele deve ter convencido os outros a me chamarem pra participar. Peguei o processo bem no começo da gravação do disco, e quando você participa assim, o seu toque fica mais visível, que foi o que aconteceu no disco todo ("I'm With You"). Tanto que o primeiro single, que era 'Maggie', no primeiro take que a gente fez, ficou bem espontâneo. E acho que eles não alteraram nada do que foi feito. Tocar todos juntos altera também o jeito que o Chad toca, algumas frequências ele não precisa cobrir, e isso também influencia o jeito do Flea, que influencia o Josh, cria um efeito dominó. O tracking junto foi legal nesse sentido.
Qual foi a repercussão entre a banda daquele vídeo produzido por fãs brasileiros?
Achei uma coisa singela, é bom ver como as músicas tocam os fãs, o resultado foi legal. Perguntei pra banda se eles tinham assistido e todos acharam a ideia maravilhosa.
Que espaço os instrumentos percussivos ocupam hoje na música popular, o rock e seus derivados?
Já faz tempo que existe esse lance de a percussão no rock n’ roll ser uma coisa marcante, vide Rolling Stones e Beatles. Eu acho que tem toda uma história baseada em um lance de pop music. Certas bandas, como o Talking Heads nos anos 80, começaram a incorporar elementos de música africana, e fizeram a coisa também se ligar à música popular de outros países. A percussão, por exemplo, nos hits de R&B, aquela coisa da conga, da pandeireta, eram elementos bem característicos. É um casamento bem natural, usar percussão como um complemento do ritmo que o baterista faz. Não é um lance predominante, é um tempero, é assim que eu vejo, principalmente no rock. Ao contrário da música brasileira, que é uma coisa mais marcante. Na verdade, os ritmos brasileiros não têm bateria, porque todos vêm da combinação de percussões. O forró é triangulo e zabumba; o samba, pandeiro e tamborim, repique e surdo. Não existe um ritmo tipicamente brasileiro que nasceu da bateria.
O quanto o Forró In The Dark impulsionou sua carreira como instrumentista fora do Brasil?
A gente apresentou um lance que já existe muito forte no Brasil, que é o forró, vem de uma tradição muito grande. Foi mais apresentar mesmo, porque talvez as pessoas conheciam muito bossa nova e samba, que são os produtos de exportação da música brasileira, mais fortes e conhecidos. O lance era mostrar um pouco da malemolência do forró.
Aquele show de Caetano Veloso com David Byrne, em 2004, do qual você participou, acabou se transformando em disco lançado recentemente...
Era pra ser só um concerto. Não era para ser gravado, e aí aproveitaram a oportunidade, gravaram e lançaram. Eu recebi uma cópia do David, e é um registro ao vivo do que foi aquela noite. Dá pra sentir bastante a emoção do negócio, mas não é cristalino, limpo, tem alguns errinhos. Eu vi que saiu bastante na imprensa internacional, varias críticas. Caetano e David sempre chamam a atenção, com os dois juntos, então...
Você e Thom Yorke ainda continuam em contato para, quem sabe, retomar algo na linha do Atoms For Peaces?
Sim, sim. Quando a gente terminou a turnê ano passado, que foi uma coisa pequena, rolou uma coisa de querer mais, uma vontade. Mas como o Chili Peppers e o Radiohead têm turnês agendadas até o fim de 2012, acho que vai ser difícil. Provavelmente ano que vem, quando rolar um break de ambos, devem rolar mais shows.
Além dessas bandas (Forró, Atoms, RHCP), existe algum outro projeto em curso?
Desde julho do ano passado até agora foi tudo muito intenso. Fiquei em Los Angeles dois meses, quando iniciamos os ensaios e alguns shows com o RHCP, e até o final do ano foi muito intenso. Mas, nesse período mesmo, eu fiz um lance com uma cantora que morava aqui nos Estados Unidos, a brasileira Karina Zeviani. Ela morou por anos entre Londres e EUA, e recentemente voltou ao Brasil. Aqui (em Nova York) ela cantava com a Thievery Corporation, e na Europa com a Nouvelle Vague. Ela tem um disco solo que vai ser lançado em maio, e que é muito legal. Toquei percussão em várias músicas, também compus uma faixa com ela e ajudei a produzir outras duas. É um trabalho do qual tenho orgulho de ter participado, ela é muito boa.
Fonte: Mtv.uol.com.br/musica
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