Matéria traduzida e publicada em novembro de 2010 no site Universo Frusciante, ao qual o então guitarrista do Red Hot Chili Peppers, John Frusciante, conversou com o site Kataweb da Itália no ano de 2006.
Stadium Arcadium...
Talvez....Digo, eu não preciso de uma explicação. Eu achei que era um grande título, achei que era um ótimo par de palavras juntas. Quando eu estava fazendo os backing vocals no estúdio, essa foi a primeira vez que eu li as palavras. Eu estava familiarizado com as melodias, mas as palavras eram por ultimo, e então eu coloquei o pedaço de papel na minha frente e eu comecei a encaixar minha harmonia com as palavras que eu vi no papel e perceber o quanto de coisas de frases que tinha naquilo, e eu vi que essas palavras, Stadium Arcadium, soavam lindas pra mim, sabe? Pra mim...Eu sou uma pessoa que não precisa de mais do que isso. Eu não preciso saber o que "I am the Walrus" significa, eu acho que é uma bela música, uma bela coleção de palavras, e pra mim não é nada importante saber o que isso significa, porque normalmente até quando nós achamos que soubemos das coisas, eu não acho que realmente sabemos.
As palavras nas cabeças das pessoas, digo, a mesma palavra na cabeça de uma pessoa significa uma coisa, na cabeça de outra pessoa significa outra coisa. Isso não é muito preciso, então se você pega o sentimento da coisa, isso é o importante. A transferência é feita, sabe? Eu pego esse sentimento, então eu nem me pergunto de onde veio a idéia do título do album, sem dúvida é um titulo perfeito. Ultimamente tenho visto muito a palavra "arcanum" que significa "segredo", e eu comecei a imaginar que talvez os espíritos estavam tentando dizer "Stadium Arcanum" e nós entendemos "Stadium Arcadium", porque arcanum é uma palavra diferente de arcadium, mas de algum jeito significam a mesma coisa.
John tem uma carreira solo em plena liberdade criativa. Como é com o RHCP?
Isso é tudo parte do meu crescimento. Na banda eu sinto esse "momentum", essa energia que dá forças e sustenta a banda desde 1983. Quando nos juntamos para compor canções, nos entramos nessa força, e essa força tem seu próprio "momentum". Na verdade, essa é uma coisa muito "deixa rolar". Porque tudo que eu preciso fazer é estar concentrado em fazer um álbum do Red Hot Chili Peppers e então a música vem até a mim, no que eu chamo de "o espírito da banda". Todos os meus albuns solos, eles realmente não tem um "momentum" pra se importar entre um e outro, e um album o "momentum" é diferente de um "momentum" que aparece em outro album. De algum modo, alguns albuns meus são mais vinculados, e outros menos. Talvez eu demore pra fazer um album e lançar, mas ao mesmo tempo, eu posso fazer meus album em 4 dias, e no RHCP os albuns levam um ano. Então as coisas funcionam de modo diferente. Pra mim, essa é a grande diferença, tipo, se você faz alguma coisa numa banda, você não pode tomar crédito de algo, mesmo se você tiver escrito as músicas, as bases, as sessões, sempre vai haver alguma coisa que você nunca imaginaria quando alguem adicionar alguma coisa. Então eu não me sinto mais responsável por nenhuma dessas músicas na banda.
Obviamente, nos meus albuns solos sou eu que escrevo. E nessa banda nós escrevemos como um time, nenhum de nós nos sentimos responsáveis, sabe? Anthony sempre acha que a melodia que ele cria já estava presente na música, e quando Flea faz as linhas de baixo e eu as de guitarra, nós nos sentimos como se estivéssemos tocando o que está dentro do som que o outro faz, sabe? Então sim, há uma grande energia carregando essa banda e uma das coisas engraçadas disso é "ok, como eu vou aproveitar essa energia pra criar algo que nunca foi criado antes na banda?" e é a mesma coisa da primeira demo do RHCP, que acaba tendo mais feeling do que qualquer tipo de estrutura musical. A estrutura musical sempre muda, mas o feeling sempre continua o mesmo.
Público e crítica reconheceram o crescimento de Frusciante como guitarrista e compositor: como equilibrar isso na banda?
Eu acho que eu sempre fui da mesma importância que eu sou hoje na banda. EU acho que as pessoas pensam isso porque Flea e Anthony são mais famosos, alguma coisa assim, mas desde "Blood Sugar" eu sempre fiz a mesma coisa nesse album ou naquele. Eu acho que hoje eu estou tocando mais solos de guitarra, solos mais longos e as pessoas prestam mais atenção em mim, mas eu não estou fazendo nada que eu não fazia antes. Sempre fiz o importante, eu acho que isso vem da mídia que Flea e Anthony tem mais a ver do que eu, porque eu nunca fui assim. Desde "Blood Sugar" nós somos uma banda de iguais, uma banda democrática. As músicas sempre saem de mim ou Flea, quase 50% de cada um de nós, sabe? E sobre tocar guitarra, eu mudo sempre. Eu acho que a guitarra desse album é melhor do que tudo que eu já fiz antes, mas não é tipo uma progressão linear. Se você pergunta pra qualquer pessoas, elas costumam colocar o "By The Way" como o mais baixo, o "Californication" aqui, "Blood Sugar" aqui, e esse album "Stadium Arcadium". Não é a ordem cronológica, mas é quase como se fosse.
Para mim, eu tenho que manter esse movimento, sabe? Preciso manter essas mudanças, manter a visão da guitarra de um novo ângulo, manter meu interesse vivo. No ultimo álbum eu toquei muito reto, num ritmo muito reto, e nesse album novo eu toquei bem loucamente. Em "By The Way" parecia que tudo estava perfeito, e nesse parece que tudo está bagunçado. No ultimo album eu pensava mais na melodia e nesse disco eu penso mais no ritmo. Eu tenho que ser bem diamétricamente diferente do que eu era a 2 ou 3 anos atrás e pra mim continua prazeroso tocar. Até hoje, quando estávamos fazendo o album e eu estava pensando direto no ritmo, e agora eu estou pensando em harmonia toda hora, em música classica toda hora. Na época da gravação eu só queria saber do ritmo, não queria saber de acordes, nem do resto. Então, isso é sobre eu mudar, e eu acho que isso acontece por causa dessa encarnação de quem eu sou e faz parte do meu processo evolutivo. Estou tocando prestando mais atenção em mim mesmo, mas não é porque eu quero, sabe? Nesse ponto da minha vida, eu amo analisar guitarristas, tipo Eddie Van Halen, ou Randy Rhoads, ou Jimi Hendrix, ou Jimmy Page, ou Jeff Beck. Eu amo esse estilo de tocar agora. Quatro anos atrás você tinha que me pagar pra ouvir esse tipo de estilo de tocar, eu não me importava. Eu gostava de guitarristas que tocavam coisas simples. Eu mudei, sabe? Quando eu tocava simples, as pessoas pensavam: "Ah, ele..." Eu não sei o que as pessoas pensavam, mas podia imaginar as pessoas desvalorizando meu estilo de tocar, porque esse era o meu ângulo. Mas eu não era pior do que os outros por isso, eu só estava pensando em um jeito de ser sutil, não de ir na frente de todo mundo e fazer solos, essas coisas. Hoje eu gosto de tocar solos.
Em "Stadium Arcadium", o funk retorna: uma cura da frustação sobre Flea em "By the Way"?
Na tentativa de sempre mudar, Anthony e eu não estávamos muito interessados em tocar funk naquele tempo. Adicionamos coisas que alguns funks possuiam, como "Can't Stop", que veio de mim. Eu não posso dizer que eu estava meio "contra" o funk, mas eu não queria fazer uma base meio blues em "By the Way". Essa era minha coisa. Agora blues é muito importante pra mim. Na época do disco eu não queria soar blues. Se Flea aparecesse com um baixo funky-blues, eu não me interessava. Era assim, eu não conseguia ajudá-lo. Eu não podia, eu estava interessado no que eu queria, eu gostava de funk, mas eu queria uma melodia meio européia. Eu acho que Flea se frustou muitas vezes, porque ele chegava com alguma coisa e eu não me animava, porque não encaixava com o que eu estava pensando sobre o disco. Este novo album está bem dentro do blues, bem dentro do funk, estou apaixonado pelos discos antigos do Funkadelic, especialmente os que tem linhas de baixo bem blues, então isso me abriu pra esse tipo de som e pra ajudar Flea a tocar, sabe? Pra mim me apresentar a esse tipo de coisa...Como eu disse, meus gostos mudam, eu não posso fazer nada, sabe? É tipo um cara que decide que gosta de um tipo de musica e não gosta de outra, eu sou assim. EU tenho opiniões sobre as coisas. Do mesmo jeito que eu não gostava de guitarristas clássicos e gosto agora, eu não gostava de ouvir qualquer musica que tinha sentimentos de blues e hoje não há nada que faça eu me sentir melhor. Coisas como Muddy Waters, Lightning Hopkins e Howlin' Wolf. Nada faz eu me sentir melhor que esse tipo de musica. Pra mim hoje , isso e música clássica são o ápice da música.
Do mesmo jeito, Flea também estava por dentro dessa melodia européia no "By the Way", haviam muitas musicas. Não era só "Flea só compõe funk e eu só melodias". Essa é uma idéia pública falsa. Universally Speaking é uma que o Flea veio com ela. Um monte de música do disco que pensam que é uma musica "estilo John" não foram criadas por mim, sabe? E como eu disse, é o contrário com "Can't Stop". Muita gente associa com Flea, mas sou eu. Essas idéias publicas são só as idéias das pessoas, que não tem nada a ver com a história. Flea estavam bem por dentro de musicas como The Smiths, Siouxie and the Banshees pra fazer "By the Way", não era só eu, sabe? Criaram personagens para o que fazíamos, mas na época eu achei que estavam subestimando-o. Eu sempre fui honesto de como eu me sentia. Sempre fomos honestos um com os outros, mas por sorte neste novo album, há duas concepções separadas de como ele deveria ser misturadas em uma coisa só. Em BSSM, nós todos queríamos a mesma coisa e terminou daquele jeito. Mas "By the Way" talvez há discordâncias e cada um quer uma coisa, sabe? E nesse ultimo album aconteceu de todos querermos as mesmas coisas. Nós decidimos...Nós todos pensamos rapidamente na mesma coisa. Por exemplo, Wu Tang Clan era a minha música preferida quando estávamos gravando este disco e Flea também estava gostando. Ou ele estava ouvindo Ice Cube e eu, Eminem. Era o suficiente para irmos ao estúdio com o mesmo tipo de mente. Obviamente, Jimi Hendrix é algo que Flea tem em sua alma, e eu ia para os ensaios e começava a solar no meu Wah-Wah por meia hora e ele me acompanhava. Era divertido, sabe?
Você quer dizer que o Red Hot Chili Peppers continua uma banda honesta?
Banda honesta? É, nós somos uma banda muito honesta. Somos muito sinceros e nos importamos com o que fazemos. Ser capaz de fazer músicas juntos nos deixa tão animados e felizes, sabe? Pra mim não existe conexão musica com ninguem que seja mais importante da que eu tenho com Flea. Estou muito feliz com o que temos agora. É uma coisa que nos importamos um com o outro, olhamos um para o outro e cuidamos um do outro. Não há nada que eu possa imaginar que seja melhor que o que eu tenho com ele, com Anthony, Chad. Quando penso na força que carregamos juntos, ainda é difícil para mim acreditar como isso acontece, é tão...perfeito, sabe?
Agradecimentos ao nosso parceiro Universo Frusciante!
Ola... tenho uma duvida pra tirar com voces.
ResponderExcluirEu vi ha muito tempo na tv, um programa, e nao lembro o nome e nem a data, onde tinha um palco numa pista de skate, e aparecia um padre falando, que teria um show e tal...
So que quando a cortina caiu, era o red hot, ai a galera ficou doida e tal... voce sabem qual o nome do programa, ou do show pra eu achar no youtube?
Obrigado