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Red Hot Chili Peppers no Hall Of Fame em Cleveland, Ohio |
Entrevista do baterista Chad Smith publicada antes do Rock And Roll Hall Of Fame para o The New York Times.
Em 1988, quando Chad Smith chegou para fazer o teste com o Red Hot Chili Peppers, um detalhe chamou sua atenção. "Eu me lembro de ter pensado: 'Esses caras são baixinhos,'" ri o baterista. "Eu sabia quem eles eram, tinha olhado a capa dos discos e tal e pensei: 'Eles vão estourar para valer;' aí entro e vejo aqueles nanicos e só dava eu, altão, no meio deles. Foi esquisito - mas até que deu certo."
Isso para dizer o mínimo, claro.
Durante os 29 anos que se passaram desde o lançamento do primeiro álbum, o Red Hot Chili Peppers já vendeu mais de 80 milhões de cópias no mundo inteiro e ganhou sete prêmios Grammy. Seus sucessos incluem clássicos como "Under the Bridge" (1991), "Give It Away" (1991), "Scar Tissue" (1999), "Otherside" (2000), "Californication" (2000), "By the Way" (2002), "Dani California" (2006), entre outros, e sua fusão de funk, punk, hip-hop e rock melódico criou um modelo copiado e seguido por inúmeras bandas que vieram depois.
O grupo, porém - que hoje inclui o vocalista Anthony Kiedis e o baixista Flea, além do guitarrista Josh Klinghoffer - não se acomodou. Mesmo depois de ter entrado para o Hall da Fama do Rock and Roll como parte da classe de 2012, o Chili Peppers está na estrada promovendo seu décimo trabalho, "I'm with You", que foi lançado em agosto emplacando o segundo lugar da Billboard 200.
"É uma doideira, cara", conta Smith por telefone de seu apartamento em Nova York. "Às vezes, você pira. Eu toquei nos clubes de Detroit durante oito anos e nunca, nem nos meus sonhos mais malucos... Se você chegasse para mim na época e dissesse: 'Olha, você vai se mudar para a Califórnia, entrar para o Chili Peppers, vender milhões de discos, viajar pelo mundo inteiro, blá-blá-blá e, 25 anos depois, vai entrar para o Hall da Fama', eu teria dito: 'Você está totalmente chapado'!"
"Pois é, mas olha a gente aqui", continua ele. "Tanta coisa rolou que não dá nem para acreditar. Nem eu consigo assimilar a coisa direito."
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Início de tudo |
A aventura do Chili Peppers começou no início dos anos 80, quando Kiedis, Flea, o guitarrista Hillel Slovak e o baterista Jack Irons, amigos do colégio Fairfax High School, em Los Angeles, começaram a tocar juntos como Tony Flow and the Miraculous Mates of Mayhem - e embora o guitarrista Jack Sherman e o baterista Cliff Martinez tenham gravado o primeiro álbum da banda, em 1984, em "Freaky Styley" (1985) Slovak voltou ao grupo, enquanto Irons só retornou em "The Uplift Mofo Party Plan" (1987).
Smith lembra que a banda chamou bastante a atenção da imprensa, mas como "um tipo de banda de escola, meio underground. Não era levada a sério".
A consagração quase não chegou a acontecer: Slovak, de 26 anos, morreu de overdose de heroína em 88; transtornado, Irons saiu, mas Kiedis e Flea decidiram prosseguir e recrutaram Smith e o guitarrista John Frusciante, que na época tinha apenas 18 anos, para substituir Irons e Slovak.
"Eu me lembro de ter pensado: 'Ah, legal, eles vão lançar um disco. Maravilha!
Que demais poder estar numa banda que tem até gravadora'", relembra Smith. "Começamos a tocar e, na mesma hora e coisa engrenou. Eu pensei: 'Cara, que dez! Eles são sensacionais!'" ... Na verdade, a gente estava fazendo o que sempre fez - improvisando, que é o que rola ainda hoje. Não mudou quase nada."
A troca de músicos valeu a pena, e como: "Mother's Milk" (1989), o primeiro álbum com a nova formação, foi platina e vendeu mais de 2,6 milhões de cópias no mundo todo. "Blood Sugar Sex Magik" (1991) foi platina sete vezes, com 15,2 milhões de álbuns, abrindo caminho para a sequência de multiplatinados que inclui "One Hot Minute" (1995), "Californication" (1999), "By the Way" (2002) e "Stadium Arcadium" (2006).
O sucesso, entretanto, não veio sem uma dose de drama, consequência de problemas de saúde, dependência de substâncias químicas e, principalmente, o fato de Frusciante ter saído do grupo em duas ocasiões, sendo que a última foi em 2009.
De acordo com Smith, felizmente Klinghoffer já estava "na órbita do Chili Peppers", pois tinha tocado em alguns álbuns solo de Frusciante e viajado com a banda como músico auxiliar. "Por isso, quando começamos a pensar em quem ia poderia ser o substituto, o primeiro que veio na cabeça foi ele. Já tínhamos namorado, agora era só questão de casar", Smith lembra com uma gargalhada.
As sessões de "I'm with You", as primeiras com Klinghoffer no grupo, foram talvez as mais tranquilas que o Chili Peppers já fez, afirma Smith.
"Acho que nos últimos discos, "Stadium Arcadium" e principalmente em "By the Way", Flea e Frusciante estavam sempre disputando para ver quem era a força criativa da banda", conta o baterista. "É o que acontece quando os caras são muito criativos e têm personalidade forte. Acontece que a banda é superdemocrática e sempre foi assim."
"Sim, dessa vez a coisa foi mais tranquila", ele continua. "Tinha um clima de novidade, afinal tinha gente nova no grupo. Klinghoffer chegou com várias ideias boas, mas sem querer impor nada."
"Lembrou muito a ocasião em que eu e o John entramos para a banda, para "Mother's Milk"; o clima ficou bem parecido", prossegue Smith. "Sem contar que estava todo mundo empolgado de voltar e tocar junto depois de dois anos. Isso também teve a ver. Energia e a animação renovadas."
O anúncio do Hall da Fama aconteceu quando o Chili Peppers estava preparando "I'm with You" e acabou representando uma transição incomum entre o passado do grupo e o presente.
"Nós não conversamos muito sobre o assunto", confessa Smith. "Soubemos no mesmo dia em que recebemos a notícia de que nosso trabalho ia concorrer ao Grammy de Melhor Álbum de Rock, foi um dia forte. Claro que todo mundo ficou superfeliz, mas não ficou falando sobre o assunto."
"Não somos muito de ficar elogiando", o baterista revela. "É só olha um para a cara do outro sem precisar falar nada, tipo: 'Valeu, cara. E agora, o que vamos fazer?'."
Aos 32 anos de idade, Klinghoffer será o integrante mais novo do hall da Fama, o que agradou o Chili Peppers - que aceitou e respeitou a decisão de Frusciante de não participar da cerimônia.
"Ele não se sentia à vontade para participar e todo mundo respeita isso", Smith explica. "Perguntamos se ele estava a fim, mas ele confessou que não se sentia legal, desejou boa sorte e agradeceu o convite. Na boa. Ele é aquele tipo de pessoa que, uma vez que superou uma fase, só se preocupa em seguir adiante. O Chili Peppers já não faz mais parte da vida dele."
Sua ausência, entretanto, não vai esfriar a festa em Cleveland.
"Fiquei muito feliz", comemora Smith. "Música não é competição. Tudo bem, legal ganhar Grammy e tal, mas isso é diferente. Não é a modinha do mês ou do ano, é o resultado de uma longa carreira que tivemos a sorte de construir. E o pessoal que já faz parte... não é brincadeira. É muito legal, estamos superansiosos."
"Vai ser muito divertido", ele prevê, "porque não tem aquela pressão de concorrer e não saber se vai ganhar. Vamos chegar, nos divertir e comemorar com a família, os amigos e os fãs".
O único problema que surgiu na turnê "I'm with You" foi quando Kiedis teve que passar por uma cirurgia no pé para reparar um problema antigo e o grupo foi forçado a atrasar as datas das apresentações na América do Norte; por outro lado, a parada deu ao resto da banda a chance de começar a criar material novo.
"Começamos a ensaiar e surgiram ideias novas para músicas e coisa e tal, mas foi legal só tocar nessas duas semanas", conta o baterista. "Foi muito legal, fluiu muito bem, um lance natural. A máquina está bem azeitada. Mandamos o CD para o Kiedis e ele adorou, principalmente as coisas novas, achou o som ótimo."
O baterista torce para que, como resultado, o próximo álbum não demore cinco anos para ficar pronto, como aconteceu entre "Stadium Arcadium" e "I'm with You" ou quatro no caso de "By the Way" e "Stadium Arcadium".
"Acho que não vai demorar tanto. Pelo menos é o que espero", confessa ele. "Foi muito bom, cheguei para ficar duas semanas na cidade, juntamos todo mundo e tocamos como nunca."
"Esse tipo de coisa faz bem para tudo", ele conclui. "É bom para o moral, para os planos. O futuro promete."
(Gary Graff é redator freelancer de Beverly Hills, Michigan.)
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